La desmesura de no ser

"surge o blues do conceito musical ocidental
no sentido de que escapa, não provém
se um quer se liberar das correntes - o que duvido
não há correntes, duvido que alguém queira se liberar
do que não há, nem tampouco do que há, que desconhece
duvido mais: duvido do desejo de liberação da espécie
humano encolhido na esquina do canto: eis aqui a imagem
sossegado nas docas do conforto, um bem estar
medo, novo lugar ao sol
uma aquarela de barco, tinta e água suja
- a onipresença se torna imperceptível
a onipresença do troll
era a ideia de um deus, de uma espécie impalpável
não se vê: o toma inteiro, não se toca: mãos quietas -
um cachorro de algodão
negros do blues, morenos do candomblé
alguém escreve da mesma forma de quem deixa
desenredando muito, a pergunta
a resposta: trapos
vem um dia a desmesura de não ser
o ser, último bastão
se você cai, segue sozinha sem mim até que encontre outro antes
do momento da desmesura de não ser e assim."

**

"sale el blues del concepto musical occidental
en el sentido de que escapa, no proviene
si uno quiere soltarse las cadenas - lo que dudo
no hay cadenas, dudo que alguien quiera liberarse
de lo que no hay, tampoco de lo que hay, que desconoce
dudo más: dudo del deseo de liberación de la especie
humano acurrucado en el rincón del canto: he ahí la imagen
sosegado en el muelle del confort, un bienestar
miedo, nuevo lugar al sol
una acuarela de barca, tinta, agua chirle
-la omnipresencia se vuelve imperceptible
la omnipresencia del troll
era la idea de un dios de una especie impalpable
no se ve: lo toma todo, no se toca: manos quietas -
un perro de algodón
negros del blues, morenos del candombe
uno escribe de la misma forma de quien deja
deshilachando mucho, a la pregunta
la respuesta: hilachas
viene un día la desmesura de no ser
el ser, último bastón
si caes sigues sola sin mí hasta que encuentres otro antes
del momento de la desmesura de no ser y así."

Eduardo Milán

PELÍCANOS

"Quero deixar claro que isto é completamento distinto
daquilo que escrevi antes. Halo, asas, aura, as que eu tinha
são outras. Eu só quero que me queiram. Eu
só quero ser um pelicano como meu pai, filho de pelicanos.
Coordenar um sistema plano a plano. Eu quero
ter o direito de dizer eu quero e estar em paz, você ao Tibet
ganhar o Ganges, golfinho em circulação. Eu só quero
fazer um dano mínimo no centro da civilização.
Pelicanos: planos, ícones."

**

"Quiero dejar claro que esto es completamente distinto
a lo que escribí antes. Halo, alas, aura, las que tenía
son otras. Yo sólo quiero que me quieran. Yo
sólo quiero ser un pelícano como mi padre, hijo de pelícanos.
Quiero hacer una escalera peldaño por peldaño. Yo quiero
tener el derecho a decir yo quiero y estar en paz, tú al Tibet
ganar el Ganges, delfín en circulación. Yo sólo quiero
hace un daño mínimo en el centro de la civilización.
Pelícanos: peldaños, íconos."


De: Circa, 1994.
En: Manto e blog de Ezequiel Zaidenwerg

Mirada

"O impaciente ri de si porque não aparece
o real. Quando lhe aparecer, rirá?
A enlouquecida por falta de olhar,
não de amor: de olhar, porque ser amado
é ser olhado, hoje por hoje, há olhares,
diria até que é tudo o que há. Ou nos olham
ou morremos não olhados, sem ser vistos
na vastidão que não distingue olhares,
cidade ou não cidade, sem cuidados.
O olhar, imagem ger-
mina, feria nos olhos, heráldica de casa real,
erínia, erínia, caça maior."

**

"El impaciente se ríe de sí mismo porque no aparece
lo real. Cuando se le aparezca, reirá?
La enloquecida por falta de mirada,
no de amor: de mirada, porque ser amado
es ser mirado, hoy por hoy, hay miradas,
se diría que es todo lo que hay. O nos miran
o morimos no mirados, sin ser vistos
en la vastedad que no distingue miradas,
ciudad o no ciudad, sin cuidados.
La mirada, imagen gen-
era, hería en los ojos, heráldica de casa real,
erinia, erinia, caza mayor."

de: Circa, 1994
en: Manto, p.146.

estación del paisaje

"Levante:
linhas verdes nervas
ervas favas vibras
fibras bradas guias
quietas grades duras

queda:
sol descansado"

**

"Levante:
líneas verdes nervas
ervas hierbas hebras
fibras gritas guías
quietas gradas duras

caída:
sol despacio"

de: Estación, Estaciones, 1975.
en: Manto, p.23

vieja

"De polpa: Deus
as palavras a
                      árvore
era madeira polpa de
galho
madre
           árvores
polpa
de toda parte (arte) árvore é
árvore de árvore
(é parto)
              bosque"

**

"De pulpa: Dios
las palabras la
                       árbol
era madera pulpa de
rama
madre
           árboles
pulpa
de toda parte (arte) árbol es
árbol de árbol
(es parto)
                bosque"

de: Estación, Estaciones, 1975.
en: Manto, p.17.

toques

"Estação

Dias são dados por Deus
(jogo por Deus)
homem por
fome
          Um poema:
ainda por Deus
                         Dedos
são toques
tateios escritos
espreito:
              Lançados"

**

"Estación

Días son dados por Dios
(juego por Dios)
hombre por
hambre
              Un poema:
todavía por Dios
                           Dedos
son toques
tanteos escritos
sondeo:
                Lanzados"

de: Estación, Estaciones, 1975.
en: Manto, p. 17.

diseminación

"Universo feminino
                                 árvore disseminada
arte do talo
                   talvez"

**

"Universo femenino
                                 árbol diseminado
arte del tallo
                     tal vez"

de: Nervadura, 1985.
en: Manto, p.41.

silencio

"O silêncio é a joia
que o silencio não ouve

o silêncio desce
das árvores:
começa a cavar"

**

"El silencio es la joya
que el silencio no oye

el silencio desciende
de los árboles:
comienza a cavar"

de: Nervadura, 1985.
en: Manto, p. 40.

Vidrio

"Vidro: vidro de ver
servido à luz
da lâmpada
tudo é par
                  o ar esparce
parco e parca
parentada luminosa:
oceano
            o céu

escrever alia cacos."

**

"Vidrio: vidrio de ver
servido a la luz
de la lámpara:
todo es par
                   el aire esparce
parco y parca
parentela luminosa:
océano
              o cielo

escribir junta cristales."

de: Nervadura, 1985.
en: Manto, p. 54

cosas claras

"A luz:
casa
      com as coisas
                   claras."

**

"La luz:
casa
       con las cosas
                   claras."

de: Nervadura, 1985.
en: Manto, p. 42.

selva

"A palavra selva
a palavra mata
a palavra salva

a paisagem

e cai a tarde: selva."

**

"La palabra selva
la palabra mata
la palabra salva

el paisaje

y cae la tarde: selva"

de: Nervadura, 1985.
en: Manto, p. 47.

sol

"O sério é ser, ninho
quente de asas, o sério é ser.
Quando o sério era feliz, luz
não sendo ou sendo pássaro, que não é
o mesmo canto, ou um caindo que não encontra
solo, o sol abismo, sol ao se pôr. Sol
que se põe detrás da casa. Não havia ser."

**

"Lo serio es ser, nido
caliente de alas, lo serio es ser.
Cuando lo serio era feliz, luz
no siendo o siendo pájaro, que no es
el mismo canto, o un cayendo que no encuentra
suelo, el sol abismo, sol al descender. Sol
que desciende detrás de la casa. No había ser."

de: Errar, 1991.
en: Manto, p. 71.

pájaro

"Alegria, impulso de abraçar
a alegria nesse pássaro. Pássaro?
Qual pássaro? Não importa:
impulso de abraçar a alegria em suas duas asas.
E dar as graças ao pássaro ausente, aura
aérea era a garça."

**

"Alegría, ganas de abrazar
la alegría en ese pájaro. Pájaro?
Cuál pájaro? No importa:
ganas de abrazar la alegría en sus dos alas.
Y dar las gracias al pájaro ausente, aura
aérea era la garza."

de: Errar, 1991.
en: Manto, p. 74.

desperdicio

"Algo se perde, o bosque arde. O que se une
ponto a ponto se esparrama distante da árvore,
cai com o sal, não o da terra, mas do saleiro
sobre a mesa. E essa flor que em si florescia, se escutava
crescer, desde lá fora se sentia, é comida de Yemanjá.
Nas águas."

**

"Algo se pierde, el bosque arde. Lo que se junta
punto por punto se desparrama lejos del árbol,
cae con la sal, no la de tierra, la del salero
sobre la mesa. Y esa flor que en si florecía, se escuchaba
crecer, desde afuera se sentía, se la come Yemanyá.
En el agua."

de: La vida mantis, 1993.
en: Manto, p.96.

alegrial

"O meu é a alegria, conheço
o ágrio de cor, limão que não é assim.
Algo assim quer me dizer Nazca, mesmo que pareça
o contrário. O certo sempre lhe parece.
Em duas palavras, proponho um mundo junto para viver:
Alegrial."

**

"Lo mío es la alegría, conozco
lo agrio de memoria, limón que no es así.
Algo así quiere decirme Nazca, aunque parezca
lo contrario. Lo cierto siempre se le parece.
En dos palabras, propongo un mundo junto para vivir:
Alegrial."

de: Algo bello que nosotros conversamos, 1995.
en: Manto, p.135.

verdad

"Que seja pássaro desde que seja verdade.
Faisão ou terror noturno, mas verdadeiro.
Não mais imagens por imagens, por piedade,
pelo amor aos pés descalços. Me dê
dinheiro desde que verdadeiro. Uma árvore em Alexandria
para ir com Andrés. Somos espíritos viajantes.
Vinho, veneno, veias, venábulos. Até vocábulos
de sua boca vermelha, maçãs da árvore do Paraíso,
até a próxima se assim deseja.
Até o seguinte pecado que nos guiará ao vício
que nos salva do vazio, toda criação é suja. Vou.
Um copo de água pura desde que seja de verdade."

**

"Que sea pájaro pero que sea verdad.
Faisán o terror nocturno pero verdadero.
No más imágenes por imágenes, por piedad,
por amor a los pies descalzos. Dame
dinero pero verdadero. Un árbol en Alejandría
para ir con Andrés. Somos espíritus viajeros.
Vino, veneno, venas, venablos. Hasta vocablos
de tu boca roja, manzanas del árbol del Paraíso,
hasta la próxima si lo deseas.
Hasta el siguiente pecado que nos guiará hacia el vicio
que nos salva del vacío, toda creación es sucia. Voy.
Un vaso de agua pura pero de verdad."

de: La vida mantis, 1993.
en: Manto, p.90

eso

"Se você não chegar a ser o que é
o que havia dentro para renascer não morre"

**

"Si no llegas a ser lo que eres
lo que en ti había para renacer no muere."

de: Dedicado a lo que queda, 1997.
en: Manto, p. 244.

todo mes

"Ser é igual a ter,
sustenta em seus seios.
Trabalhar como um cavalo, pensar
como um cavalo continuamente, cavalgar
como um correio ao azar, alazão deveria,
para ser uma vez por mês? Mensalidade do ser,
lua goteada de mulher uma vez por mês, período
que cai ao rio por atração pelas águas. Plural:
por que se diz as águas quando as águas são uma?
Se diz assim a partir de sua separação?
Quinzena última, instante depois de instante, queda
e logo levante, todos com o garfo na mão."

**

"Ser es igual a tener,
sonstenlo en tus senos.
Trabajar como un caballo, pensar
como un caballo acto seguido, cabalgar
como un correo al azar, alazán debería,
para ser una vez al mes? Mensualidad del ser,
luna goteada de mujer una vez al mes, periodo
que cae al río por atracción de las aguas. Plural:
por qué se dice las aguas cuando las aguas son una?
Se dice así a partir de su separación?
Quincena última, instante tras instante, caída
y luego levante, todos con la mano en el tenedor."

de: El nombre es otro, 1997.
en: Manto, p. 236.

vaca

"Nem natural nem mãe terra nem um quarto
minguante: eu me meto em seu couro, vaca,
aberta em Suez porque lhes deu vontade,
bordoada, fome, tudo é nada, tanto faz.
Sem bezerro que se meta por sua luz quente
vazia de ânimo, mentes, lâmpadas, quieta, cava
pouco, canta como flamenco até perder a forma
arbitrária por tanta ordem, nada, não quero saber,
dentro de seu couro me curo."

**

"Ni natural ni madre tierra ni cuarto
menguante: yo me meto en tu cuero, vaca,
abierta en Suez porque les dio la gana,
andanada, hambre, todo es nada, da igual.
No ternero que se mete por tu luz caliente
vacía de aliento, mentes, lámparas, queda, cava
poco, canta como flamenco hasta perder su forma
arbitraria por tanto orden, nada, no quiero saber,
dentro de tu cuero me curo."

de: El nombre es otro, 1997.
en: Manto, p.233-234.

luz

"Captei o olhar de dois apaixonados,
não caía, se sustentava a luz, assim:
'Estados Unidos de joelhos na terra
buscará raízes para comer, quando não houver
velocidade'. Suspensa, como seus seios."

**

"Capté la mirada de dos enamorados,
no caía, se sostenía la luz, así:
'Estados Unidos de rodillas en la tierra
buscará raíces para comer, cuando no haya
velocidad'. Sostenida, como tus senos."

de: El nombre es otro, 1997.
en: Manto, p.229.